"Após vários anos de trabalho, Caravaggio andou de cidade em cidade
servindo vários senhores importantes. É um trabalhador incansável, porém
orgulhoso, teimoso e sempre disposto a participar em discussões e a envolver-se
em brigas, o que torna difícil conviver com ele". -Floris Claes van Dijk
Exceto em suas primeiras obras, Caravaggio pintou fundamentalmente temas
religiosos. No entanto, foram várias as vezes em que as suas pinturas feriam as
susceptibilidades dos seus clientes. Nos seus quadros, em vez de adoptar nas
suas pinturas belas figuras etéreas, delicadas, para representar acontecimentos
e personagens da Bíblia, preferia escolher por entre o
povo modelos humanos tais como prostitutas, crianças de ruas e mendigos, que posavam como personagens
para as suas obras.
Caravaggio procurou a realidade palpável e concreta da representação.
Utilizou como modelos figuras humanas, sem qualquer receio de representar a
feiura, a deformidade em cenas provocadoras, características essas que
distingue as suas obras. Tudo isso chocou os seus contemporâneos, pela rudez
das suas pinturas. Dos efeitos que Caravaggio dava aos quadros originou "Tenebrismo" , onde os tons terrosos
contrastam com os fortes pontos de luz.
VIDA
A Captura de Cristo, 1602, Galeria Nacional da Irlanda
Durante sua vida, Caravaggio era considerado enigmático, fascinante e
perigoso. Nascido no Ducado de Milão, onde seu pai, Fermo Merisi, era
administrador e arquiteto-decorador do marquês de Caravaggio,
Michelangelo Merisi surgiu na cena artística romana em 1600 e, desde então, nunca lhe
faltaram comissões oupatronos.
Porém ele lidou com seu sucesso de maneira atroz. Uma nota precocemente
publicada sobre ele, em 1604, descrevia seu estilo de vida três anos antes:
"após uma quinzena de trabalho, ele irá vagar por um mês ou dois com uma
espada a seu lado e um servo o seguindo, de um salão de baile para outro,
sempre pronto para se envolver em alguma luta ou discussão, de tal maneira que
é bastante torpe acompanhá-lo." (Floris Claes van Dijk; Roma, 1601)
Considerado um farrista inconseqüente, ele vivia com problemas com a
polícia, sem dinheiro e buscava brigas nos pulgueiros da cidade. Em 1606, matou um jovem durante uma briga e foge de Roma, com a cabeça a prêmio. Passou por Nápoles, depois por Malta e pela Sicília, onde pintou telas de lirismo
transfigurado, como: A ressurreição de Lázaro (Messina), na qual, sob o pavor
de um imenso espaço vazio, um raio de luz rasante parece imobilizar o drama
sagrado.
Em Malta (1608) envolveu-se em outra briga, e mais outra em Nápoles (1609), possivelmente um atentado premeditado contra a
sua vida devido suas ações, por inimigos nunca identificados. No ano seguinte,
após uma carreira de pouco mais do que uma década, Caravaggio estava morto, aos
38 anos.
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Caravaggio tomava emprestada a imagem de pessoas comuns das ruas de Roma para retratar Maria e os apóstolos. A sua inspiração estava entre
comerciantes, prostitutas, marinheiros, todo o tipo de pessoas que não eram de
nobre estirpe e que tivessem grande expressão, como as suas obras retratam.
Talvez tenha sido um dos primeiros artistas a saber conciliar a arte com o
mitológico "ministério de Jesus", que teria acontecido entre pescadores,
camponeses e prostitutas.
O artista levou este princípio estético às últimas consequências, a
ponto de ter sido acusado de usar o corpo de uma prostituta fisgada morta do rio Tibre para pintar A Morte da Virgem. Esta foi uma das duas mais
importantes características das suas pinturas: retratar o aspecto mundano dos
eventos bíblicos, usando o povo comum das ruas de Roma.
Em a "Flagelação de Cristo" compôs uma coreografia com
contrastes de claro-escuro, onde Cristo se apresentava num movimento de
total abandono, conseguindo uma composição de beleza carismática. Já em "São João Batista", demonstra um jovem de olhar
provocador -julgava-se que esse modelo era um dos seus amantes.
Flagelação
de Cristo
João Batista no deserto
A morte da Virgem
A outra característica marcante foi a dimensão e impacto realista que
ele deu aos seus quadros, ao usar um fundo sempre raso, obscuro, muitas vezes
totalmente negro, e agrupar a cena em primeiro plano com focos intenso de luz
sobre os detalhes, geralmente os rostos. O uso de sombra e luz é marcante em
seus quadros e atrai o observador para dentro da cena - como fica bem
demonstrado em A ceia de Emaús. Os efeitos de iluminação que Caravaggio criou receberam um
nome específico: tenebrismo.
Na obra "David com a cabeça de Golias", uma cabeça decapitada, onde ele
mesmo é o Golias, um sanguinário grotesco, um monstro. Na decapitação de João
Batista, o mal era representado por outra pessoa. Aqui, é Caravaggio quem
personifica a maldade. Na espada de David foi escrito Humilitas Occedit Superbiam ("A Humildade Conquista o
Mundo"). Uma batalha que tem sido travada dentro da cabeça de Caravaggio,
entre os dois lados opostos do pintor retratado nessa fascinante obra.
A ceia de Emaús
Uso da luz e sombras
Uso da luz e sombras
No fim do Renascimento, os grandes mestres caminhavam
para uma visão mais obscura e realista das escrituras sagradas, como se vê
principalmente em A Conversão de São Paulo e no Martírio de São Pedro - afrescos de Michelangelo Buonarroti, realizados naCappella Paolina, no Palácio Vaticano. Caravaggio pintou versões próprias desses temas - A conversão de São Paulo, a
caminho de Damasco e Crucificação de São Pedro - que ilustram bem como foi capaz
de igualar, senão de superar seus mestres.
Conversão de São Paulo
Visão mais obscura e realista das escrituras sagradas
Caravaggio reagiu às convenções do maneirismo e opôs a elas uma pintura
natural, direta, e até mesmo brutal, que pela sua franqueza renovou a natureza
morta (Cesta de frutas - 1596], e as cenas profanas (Baco, 1593-1594)[11], bem como os temas religiosos (Descanso durante fuga para o Egito [12], 1594-1596). Os contrastes de forma e luz
sublinham formas maciças que, na maior parte de suas obras, emergem
vigorosamente de um fundo negro escuro com pouca profundidade como em temas
cotidianos, a exemplo de A Adivinha
Outras obras
·
A Galleria Nazionale d'Arte Antica, no Palazzo Barberini, conserva, além do Narciso e de Judite e Holoferne, de Caravaggio, setenta pinturas
caravaggescas, que permitem acompanhar a parábola da pintura naturalística
desde o seu início, nos primórdios do século XVII, com O amor sacro e o amor profano de Baglioni (1602), até seu declínio, nos anos 1630.
·
Pequeno Baco Doente (1593-1594) - Galeria Borghese, Roma
·
Tocador de Alaúde (1594) - Museu Ermitage, São Petersburgo
·
Invocação de São Mateus (1599-1600) - Igreja de São Luís dos Franceses, Roma
·
A Inspiração de São Mateus (c. 1602) - Igreja de São Luís dos Franceses, Roma
·
Martírio de São Mateus (1599-1600) - Igreja de São Luís dos Franceses, Roma
·
Nossa Senhora do Rosário (1607) - Museu de História da Arte, Viena
·
Sete Obras de Misericórdia (1607) - Pio Monte della Misericordia, Nápoles
·
João Batista (João no deserto) (c. 1604) - Nelson-Atkins Museum of Art, Kansas City, Missouri, Estados Unidos
·
Degolação de Baptista (1608) - Catedral da Valletta, Valletta, Malta
·
Ressurreição de Lázaro (1608-1609) - Museu Nacional, Messina
DESCOBERTAS RECENTES
Em 10 de novembro de 2006, um quadro do pintor, integrante da coleção da
rainha Elizabeth II de Inglaterra foi autenticado
depois de seis anos de análise técnica. Até então, fora considerado uma cópia.
Em 16 de junho de 2010, uma equipe de cientistas e universitários
italianos do "Comitê Caravaggio" anunciou a identificação dos restos
mortais do pintor, graças a análises de DNA e de carbono.
FONTE:
wallas
Nathalia
Terezinha
Girlene
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